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 O Rosmaninho em Portugal

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Branquinho




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MensagemAssunto: O Rosmaninho em Portugal   O Rosmaninho em Portugal Icon_minitimeSeg Jun 08, 2009 8:24 pm

Se gosta de caminhar pelo campo, certamente já teve o privilégio de encontrar campos pintados com o lilás do rosmaninho e perfumados pelo seu odor. Venha connosco numa visita guiada aos rosmaninhos de Portugal.
Quem percorrer os descampados ibéricos meridionais, a sul do Minho e da "Espanha verde" (nome dado às regiões setentrionais da Galiza, Astúrias, Cantábria, País Basco... onde o clima não é mediterrânico), durante os meses de Primavera e Verão, ficará com certeza encantado com os perfumes que lhes enriquecem os ares. E para chamar-lhes "perfumes" é dispensável ter um nariz muito apurado ou um sentido poético das coisas, pois os odores que as ervas e os arbustos que aí encontramos são de facto tão intensos, tão ricos e tão unanimemente apreciados que podemos, com objectividade, dar-lhes esse nome.
É difícil percorrer as serras calcárias do Oeste estremenho português sem se cheirar o tomilho ou o alecrim; difícil passar um regato sem detectar o odor da hortelã ou do poejo; impossível correr o sul do Alentejo sem que os vapores da esteva nos acalmem; e muito improvável que nas caminhadas não topemos, mais cedo ou mais tarde, com alguma espécie de rosmaninho. Dizemos "alguma espécie" porque na verdade é possível encontrar cinco espécies de rosmaninho em Portugal, embora o vernáculo as reúna sob um único nome vulgar.
Segundo a nomenclatura empregue pela taxonomia botânica, todos os rosmaninhos pertencem ao género Lavandula L.. (Curiosamente, apesar de a nomenclatura botânica ser redigida em latim, e de o português ser uma língua neolatina, podemos verificar que o género Rosmarinus L., tão abundante em Portugal na espécie Rosmarinus officinalis L., recebeu o nome vernáculo de... alecrim, em lugar de rosmaninho!).
Os rosmaninhos portugueses são todos eles pequenos arbustos lenhosos, facilmente identificáveis pelo aroma (parecido, mas não muito, ao da alfazema da perfumaria) e pelas espigas violetas que coroam a pequena copa. Estas espigas, geralmente pequenas (2 a 8 cm), são compostas por pequenas flores tubulares e labiadas, aninhadas entre brácteas quase da mesma cor, estando o conjunto (no caso das espécies L. pedunculata (Miller) Cav., L. luisieri (Rozeira) Rivas-Martínez e L. viridisér.) completado por três longas brácteas petalóides violetas, lilazes ou brancas que enfeitam o topo da espiga em jeito de penacho (ver fotografia). Acham-se por quase todas as regiões do país, formando os matorrais que primeiro colonizam os terrenos privados de coberto arbóreo ou arbustivo alto; na Primavera chegam a tingir de violeta enormes extensões de incultos por todo o sul, interior e oeste portugueses.
Em Trás-os-Montes, na Terra Quente, crescem acompanhados pela giesta-branca (Cytisus multiflorus (L'Hér.) Sweet) nos terrenos desnudados por incêndio ou intervenção humana, onde outrora cresceriam associações de sobreiros; na Beira interior acompanhados por tojo-gadanho (Genista falcata Brot.), nos antigos terrenos de carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.); no Oeste estremenho acompanhadas pelo tojo-durázio (Ulex jussiaei Webb) nos solos donde foi eliminado o carvalho-cerquinho (Quercus faginea Lam. ssp. broteroii (Coutinho) A. Camus); e em vários terrenos muito esqueléticos do interior de norte a sul, acompanhado pela roselha-maior (Cistus albidus L.) ou pela cebola-albarrã (Urginea maritima (L.) Baker), frequentemente nos antigos domínios da azinheira (Quercus rotundifolia Lam.).
Actualmente são reconhecidas cinco espécies de Lavandula em Portugal: L. luisieri, L. viridis e L. pedunculata (esta última dividindo-se pelas subespécies pedunculata, sampaiana e lusitanica) formam uma secção dentro do género (secção Stoechas Gingins) muito aproximada filogeneticamente; e ainda L. latifolia Medicus e L. multifida L., duas espécies menos abundantes e mais distintas das primeiras.
Dentro da secção Stoechas (que se distingue, para o observador casual, pelas três longas brácteas violetas ou brancas no topo da espiga), L. pedunculata separa-se de L. luisieri pelo longo pedúnculo da inflorescência, e L. viridis distingue-se pela tonalidade verde-amarelado ou branco da espiga e pela intensa concentração de pêlos glândulares. L. pedunculata e L. luisieri abundam no Nordeste, Centro e Sul; L. viridis, bastante menos fácil de encontrar, ocorre apenas e esporadicamente no Sudoeste e Sudeste alentejanos e no Barlavento algarvio.

A espécie L. latifolia cresce apenas nos maciços calcários da estremadura e beira litoral; L. multifida, sendo altamente termófila (isto é, atreita a microclimas mais quentes), e tendo decerto herdado a sua actual distribuição geográfica em função das condições climáticas de passadas épocas glaciares, encontra-se refugiada em pequenas comunidades nas vertentes vertentes expostas a sul da Serra da Arrábida e do vale do Guadiana.
O conhecimento científico dos rosmaninhos portugueses tem uma história própria. As espécies portuguesas de Lavandula foram sendo descobertas e destrinçadas ao longo de vários séculos. Brotero, na sua Flora Lusitanica (1804), assinalava apenas L. spica L. (a alfazema cultivada, não espontânea), L. stoechas L. e L. multifida L.. Mais de um século depois, estando o país melhor investigado por botânicos nacionais e estrangeiros, já Pereira Coutinho descrevia na Flora de Portugal (2ª edição, 1943) cinco espécies: três idênticas às descritas por Brotero (fazendo notar que a L. stoechas L. portuguesa pertencia à variedade pedunculata Cav. dessa mesma espécie) , e ainda L. latifolia Villars e L. viridis Ait.
A Nova Flora de Portugal de Amaral Franco (1984), obra actualmente tida como a referência mais correcta para este género do nosso país, refere cinco espécies: constata que afinal a L. stoechas que se supunha existir aqui é um par de espécies distintas: L. pedunculata e L. luisieri (reconhecendo portanto que a verdadeira L. stoechas, comum em França, não ocorre por cá); L. viridis; L. latifolia e L. multifida; alude ainda ao cultivo da alfazema (nome atribuido a várias espécies: L. dentata L., L. spica L., L. angustifolia L. e, por vezes, às já referidas espontâneas L. latifolia e L. multifida).

O género Lavandula, por seu turno, pertence à família das Lamiáceas ou, como é melhor conhecida, Labiadas. Recebem este nome porque todas possuem flores tubulares cuja "boca" termina em dois lábios (superior e inferior) ou, mais raramente, num só. Muitas são as espécies de labiadas a que o Homem dá aplicação: o poejo (Mentha pulegium L.), o patchouli (Pogostemon cablin (Blanco) Benth.), o basílico (Ocimum basilicum L.), o manjerico (Ocimum minimum L.), a segurelha (Satureja hortensis L.), o alecrim (Rosmarinus officinalis L.), a salva (Salvia spp.). São características de climas mediterrânicos e sub-tropicais, embora algumas suportem bem climas mais frios.

Apesar de tão abundantes no nosso país, os rosmaninhos parecem estar a desaparecer velozmente das tradições portuguesas, particularmente no que respeita à culinária rústica e à aplicação paisagista. Em qualquer hipermercado é possível comprar pouquitos ramos de rosmaninho (geralmente L. pedunculata ou L. luisieri) por duas ou três centenas de escudos, mesmo quando o exterior do próprio estabelecimento está rodeado de matos dessa espécie!
E o mesmo se repete para o poejo, o alecrim, a hortelâ, o tomilho... abundantes por tantas ribeiras. Será que as novas gerações de cozinheiros já não conseguem identificar no campo os ingredientes habituais da cozinha vernácula de outrora?
E outro tanto sucede nos jardins que a cada passo plantamos... onde se instalam quase sempre espécies exóticas de Lavandula, enquanto noutros países se aprecia bastante ajardinar com as portuguesíssimas Lavandula pedunculata, L. luisieri, e mesmo o rosmaninho-verde (L. viridis), que é praticamente ignorado aquém-fronteiras. Leiam-se, por exemplo, algumas publicações da Royal Horticultural Society para constatar como no mundo do paisagismo anglo-saxónico estas espécies são estimadas.
Como a publicação deste artigo decorre já em pleno Verão, o leitor encontrará pelos campos o já tão gabado odor do rosmaninho, mas infelizmente encontrará as suas belas espigas floríferas já secas. Tem boa compensação, porém: compre o mais apreciado produto desta planta: o mel. Várias regiões do país são especialistas na produção de mel de rosmaninho, espécie excepcionalmente melífera. Acorra, por exemplo, a Mértola; e veja os campos, e cheire o mel, e prove-o.
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